Na História da Europa, dá-se o nome de migrações bárbaras, à série de migrações de vários povos que ocorreu entre os anos 300 e 800 a partir da Europa Central e que se estenderia a todo o continente. A referência aos bárbaros, nome cunhado pelos gregos e que em grego antigo significava apenas estrangeiro, foi usada pelos Romanos para designar os povos que não partilhavam os seus costumes e cultura (nem a sua organização política). Estas migrações nem sempre implicaram violentos combates entre os migrantes e os povos do Império Romano, embora estes tenham existido. Já os romanos também eram chamados de "bárbaros" (estrangeiros) pelos gregos. Os povos migrantes, em muitos casos, coexistiam pacificamente com os cidadãos do Império Romano nos anos que antecederam este período.
Destacam-se, neste processo, os Godos (originários do sudeste europeu), os Vândalos e os Anglos (da Europa Central), entre outros povos germânicos e eslavos. Os motivos que desencadearam estas migrações em todo o continente são incertos: talvez como reação às incursões dos Hunos, pressões populacionais ou alterações climáticas.
Os historiadores modernos dividem este movimento migracional em duas fases. Na primeira, de 300 a 500, assistiu-se a uma movimentação de povos maioritariamente germânicos por toda a Europa, colidindo, portanto, com as várias regiões ocupadas pelo Império Romano. Foram os Visigodos os primeiros a eclodir com o império — na verdade, os Visigodos foram inicialmente contratados para ajudar na defesa das fronteiras do império, mas mais tarde seriam responsáveis pela invasão da península Itálica; de imediato, seguiram-lhes os Ostrogodos, liderados por Teodorico, o Grande.
Na segunda fase, entre os anos 500 e 700, assiste-se ao estabelecimento progressivo dos Eslavos na Europa do Leste, tornando-a predominantemente eslava, num movimento iniciado pela ocupação da região da atual República Checa.
Os Búlgaros eram estabelecidos em Europa pelo século II. No século IV parte deles migrou do Cáucaso do Norte a Armênia. Em 632 estabeleceram a Antiga Grande Bulgária no território entre o Cáucaso e o rio Danúbio. No século VII, Búlgaros migraram também à Baviera, à península Itálica, à Panônia e à Macedônia. Em 681, o Império Búlgaro expandiu-se nos Bálcãs ao sul do Danúbio, e no século IX era o berço do eslavo eclesiástico e alfabeto cirílico, que nos séculos subsequentes foram espalhados aos estados europeus medievais tais como Rússia, Croácia, Sérvia, Valáquia e Moldávia.
Já excluídos do período de migrações, mas ainda na Baixa Idade Média, formam-se ainda movimentos migratórios, nomeadamente o dos Magiares, para a Panônia, e, mais tarde, dos Turcos para a Anatólia e do Cáucaso (século XI), e ainda a expansão dos Viquingues a partir da Escandinávia, ameaçando o recém-estabelecido Império Franco na Europa Ocidental, por Carlos Magno. No século VIII, os árabes tentaram invadir o sudeste da Europa, mas foram derrotados pelo cã Tervel da Bulgária e pelo imperador bizantino Leão III, o Isauro em 717, e desviaram sua expansão à Península Ibérica.
Os limites do Império Romano no século IV, já dividido em duas metades (Ocidente e do Oriente), faziam fronteira com várias culturas não romanizadas: na África, os Berberes e as tribos do Sudão, a norte, desde a península Escandinava em direção ao mar Negro, na região além do Reno e o Danúbio, os Germanos, populações tipicamente nômades. Estes povos foram genericamente designados pelos Romanos como bárbaros, numa clara alusão ao facto de não partilharem o mesmo nível civilizacional e costumes de Roma. No entanto, estes grupos já conheciam estes aspectos do império e, inclusive, alguns transitavam livremente para dentro e fora das fronteiras. Várias tribos germanas se instalaram pacificamente no interior do império, chegando mesmo a integrar o exército romano, quer como soldados quer como mercenários, contribuindo reciprocamente na defesa das fronteiras. Este fenômeno ganhou particular dimensão após a crise do terceiro século. Por volta do ano 400, entre trinta e cinquenta por cento do exército romano era composto de mercenários germânicos. Sem outra saída, alguns grupos bárbaros foram alistados no exército de Roma como unidades inteiras para ajudar na defesa contra outros grupos. Isso foi muito popular durante as guerras civis do século IV, quando aspirantes ao trono romano precisavam levantar exércitos rapidamente. Essas unidades bárbaras mantinham seus próprios líderes e não tinham a lealdade e a disciplina das legiões.
Vivendo em solos pouco férteis, os Germanos dedicavam-se, sobretudo, ao pastoreio, embora, à data do contacto com os Romanos, já se dedicassem ao cultivo de cereais. As terras não cultivadas pertenciam à tribo, enquanto que as casas e mobiliário eram propriedade privada; as terras de cultivo eram sorteadas equitativamente de ano a ano entre as famílias, embora no século II este tipo de propriedade passasse a ser propriedade familiar, apenas alienável pelo consentimento de todos os membros da família. Organizavam-se politicamente através de um rei, escolhido de uma família particular (considerada de origem divina), embora a autoridade estivesse formalmente nas mãos de uma assembleia de homens livres e com idade suficiente para usar armas. Nos tempos de guerra, era eleito um general que detinha todo o poder. Por esta altura, os Germanos coexistiam pacificamente com o império: os utensílios e moedas encontrados em túmulos germanos provam a existência de relações comerciais entre as duas civilizações, principalmente nas regiões entre o Elba e o Mediterrâneo, ao longo do vale do Reno, e pelo Vístula e mar Negro.
Durante o século III, os Germanos tomam contacto com o cristianismo, provavelmente devido aos prisioneiros Capadócios levados à região dos Godos. Com efeito, tem-se conhecimento de Úlfilas representar, algures no século IV, o grande apóstolo deste povo. Através de Úlfilas, os Godos aderem ao cristianismo na sua forma ariana, considerada herética na altura. Porém, esta vertente cristã difundir-se-ia rapidamente entre os Germanos, Vândalos, Gépidas e Alamanos.
As relações entre bárbaros e romanos não se limitavam, contudo, à esfera comercial e cultural: o exército romano ia-se transformando num corpo profissional profusamente incorporado por mercenários que, sucessivamente, ia substituindo as legiões e a aristocracia chegando mesmo a ingressar na família imperial — Honório, filho de Teodósio, desposou duas filhas do general romano de origem vândala Estilicão, Maria e Termância. A sucessiva falta de mão-de-obra no campo obrigava o império a permitir a entrada destes povos, formando assim assentamentos caracterizados distintamente: os federados, ligados a Roma por um contrato, aos quais era permitida a preservação dos costumes, organização social e política, em troca da prestação de serviço militar. No decorrer do século IV, estes tratados de federação aumentavam substancialmente, na tentativa de vencer a crise que se aproximava.
O progressivo desmembramento do império, aliado ao incremento da corrupção e escassez de meios para controlar e fortificar as fronteiras, levaram à canalização do esforço defensivo para as regiões críticas do império, como a própria capital. Como consequência, as fronteiras tornavam-se cada vez mais instáveis e, finalmente, devido à pressão dos Hunos oriundos de nordeste, as populações bárbaras adensaram a penetração no império, na tentativa de manterem-se protegidas.
A estrutura administrativa do Império Romano dependia fortemente dos tributos que impunha aos novos vencidos: além de uma forma de pagar as despesas da guerra, eram também impostos como medida de benevolência ou castigo pela resistência durante as conquistas. A paralisação das conquistas tinha igualmente paralisado o afluxo destes impostos (que iam diminuindo progressivamente). No século III, tinham já diminuído consideravelmente e no século seguinte já se haviam esgotado.
Na tentativa de contrapor a crise, foi organizado um pesado sistema de impostos, e ditada uma lei que obrigava a hereditariedade das atividades exercidas, o que significa que as profissões eram herdadas pelos filhos do atual funcionário. Os filhos de soldados sucediam os pais nas fileiras, os colonos mantinham-se fixados ao solo que cultivavam. O êxodo urbano dos aristocratas, paralelamente à formação das castas, provocou o surgimento no Ocidente de senhorios rurais, as vila e, que constituíram o principal quadro da vida econômica e social da época, e antecederam o feudalismo.
No ano 395, o Império Romano foi formalmente dividido duas partes: o Oriente, com as províncias mais ricas e populosas, e o Ocidente, em acelerada decadência. Por esta altura, alguns bárbaros coexistiam pacificamente no interior do império. No entanto, no século V deu-se um afluxo exorbitante de povos em busca de proteção contra os Hunos que se mobilizavam em direção à Europa latina.
Enquanto o desmembramento do Império Romano se tornava inevitável — em 455 os Vândalos de Genserico pilharam Roma; os Visigodos, Suevos e Burgúndios declaram-se independentes em 476. O chefe Odoacro depôs o último imperador do Ocidente, Rômulo Augusto, e enviou as insígnias imperiais ao imperador do Oriente — os Bárbaros assimilavam a língua e grande parte dos costumes romanos, enquanto introduziam, mais ou menos harmoniosamente, os hábitos e termos germânicos.
Terminava assim o Império do Ocidente. No entanto, a civilização persistia: as instituições políticas, como o senado e o consulado subsistiram entre os bárbaros. Em 493, o chefe ostrogodo Teodorico, o Grande tomou o poder na Itália, fazendo-se reconhecer como representante legítimo do imperador bizantino. Permaneceram intactos o estatuto do latim como língua oficial e as estruturas sociais; o grande obstáculo então eram as diferenças de religiões: o choque entre o catolicismo e o arianismo.
Não obstante, de 456 a 472, o Império Romano revelava a sua fragilidade, denunciada pelas movimentações bárbaras: durante este período, foram sucessivamente nomeados e destituídos vários imperadores. Em 475, é Orestes, um panônio outrora ao serviço de Átila, o Huno, que faz nomear imperador o seu filho de doze anos, o jovem Rômulo Augusto, que reinou escassos meses, até que Odoacro, chefe dos mercenários instalados na Itália, organize uma revolta que culmina na deposição de Rômulo, que é relegado para a Campânia. Era a queda definitiva do Império Romano.
A reconquista da Itália pelos exércitos bizantinos, na Guerra Gótica, sob o imperador Justiniano conseguiria restabelecer por algum tempo a unidade imperial, reconquistando também o norte de África e parte da Hispânia. O reino Vândalo foi, portanto, destruído (534), enquanto que na Península Ibérica a monarquia visigótica foi seriamente enfraquecida.
As medidas de Justiniano durariam pouco tempo. Na verdade, o enfraquecimento das regiões reunificadas seria a principal causa para o impacto do surgimento do Islão, cujas repercussões se verificaram na Península Ibérica e no corte de ligações entre as duas metades do Império Romano.