Revolução Industrial foi a transição para novos processos de manufatura no período entre 1760 a algum momento entre 1820 e 1840. Esta transformação incluiu a transição de métodos de produção artesanais para a produção por máquinas, a fabricação de novos produtos químicos, novos processos de produção de ferro, maior eficiência da energia da água, o uso crescente da energia a vapor e o desenvolvimento das máquinas-ferramentas, além da substituição da madeira e de outros biocombustíveis pelo carvão. A revolução teve início na Inglaterra e em poucas décadas se espalhou para a Europa Ocidental e os Estados Unidos.
A Revolução Industrial é um divisor de águas na história e quase todos os aspectos da vida cotidiana da época foram influenciados de alguma forma por esse processo. A população começou a experimentar um crescimento sustentado sem precedentes históricos, com uma boa renda média. Nas palavras de Robert E. Lucas Jr., ganhador do Prêmio Nobel: "Pela primeira vez na história o padrão de vida das pessoas comuns começou a se submeter a um crescimento sustentado ... Nada remotamente parecido com este comportamento econômico é mencionado por economistas clássicos, até mesmo como uma possibilidade teórica."
O início e a duração da Revolução Industrial variam de acordo com diferentes historiadores. Eric Hobsbawm considera que a revolução "explodiu" na Grã-Bretanha na década de 1780 e não foi totalmente percebida até a década de 1830 ou de 1840, enquanto T. S. Ashton considera que ela ocorreu aproximadamente entre 1760 e 1830. Alguns historiadores do século XX, como John Clapham e Nicholas Crafts, têm argumentado que o processo de mudança econômica e social ocorreu de forma gradual e que o termo "revolução" é equivocado. Este ainda é um assunto que está em debate entre os historiadores.
O PIB per capita manteve-se praticamente estável antes da Revolução Industrial e do surgimento da economia capitalista moderna. A revolução impulsionou uma era de forte crescimento econômico nas economias capitalistas e existe um consenso entre historiadores econômicos de que o início da Revolução Industrial é o evento mais importante na história da humanidade desde a domesticação de animais e a agricultura. A Primeira Revolução Industrial evoluiu para a Segunda Revolução Industrial, nos anos de transição entre 1840 e 1870, quando o progresso tecnológico e econômico ganhou força com a adoção crescente de barcos a vapor, navios, ferrovias, fabricação em larga escala de máquinas e o aumento do uso de fábricas que utilizavam a energia a vapor.
Antes da Revolução Industrial, a atividade produtiva era artesanal e manual (daí o termo manufatura), no máximo com o emprego de algumas máquinas simples. Dependendo da escala, grupos de artesãos podiam se organizar e dividir algumas etapas do processo, mas muitas vezes um mesmo artesão cuidava de todo o processo, desde a obtenção da matéria-prima até à comercialização do produto final. Esses trabalhos eram realizados em oficinas nas casas dos próprios artesãos e os profissionais da época dominavam muitas (se não todas) etapas do processo produtivo.
Com a Revolução Industrial os trabalhadores perderam o controle do processo produtivo, uma vez que passaram a trabalhar para um patrão (na qualidade de empregados ou operários), perdendo a posse da matéria-prima, do produto final e do lucro. Esses trabalhadores passaram a controlar máquinas que pertenciam aos donos dos meios de produção os quais passaram a receber todos os lucros. O trabalho realizado com as máquinas ficou conhecido por maquinofatura.
Esse momento de passagem marca o ponto culminante de uma evolução tecnológica, econômica e social que vinha se processando na Europa desde a Baixa Idade Média, com ênfase nos países onde a Reforma Protestante tinha conseguido destronar a influência da Igreja Católica: Inglaterra, Escócia, Países Baixos, Suécia. Nos países fiéis ao catolicismo, a Revolução Industrial eclodiu, em geral, mais tarde, e num esforço declarado de copiar aquilo que se fazia nos países mais avançados tecnologicamente: os países protestantes.
De acordo com a teoria de Karl Marx, a Revolução Industrial, iniciada na Grã-Bretanha, integrou o conjunto das chamadas Revoluções Burguesas do século XVIII, responsáveis pela crise do Antigo Regime, na passagem do capitalismo comercial para o industrial. Os outros dois movimentos que a acompanham são a Independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa que, sob influência dos princípios iluministas, assinalam a transição da Idade Moderna para a Idade Contemporânea. Para Marx, o capitalismo seria um produto da Revolução Industrial e não sua causa.
Com a evolução do processo, no plano das Relações Internacionais, o século XIX foi marcado pela hegemonia mundial britânica, um período de acelerado progresso econômico-tecnológico, de expansão colonialista e das primeiras lutas e conquistas dos trabalhadores. Durante a maior parte do período, o trono britânico foi ocupado pela rainha Vitória (1837-1901), razão pela qual é denominado como Era Vitoriana. Ao final do período, a busca por novas áreas para colonizar e descarregar os produtos maciçamente produzidos pela Europa produziu uma acirrada disputa entre as potências industrializadas, causando diversos conflitos e um crescente espírito armamentista que culminou, mais tarde, na eclosão, da Primeira Guerra Mundial (1914).
A Revolução Industrial ocorreu primeiramente na Europa devido a três fatores: 1) os comerciantes e os mercadores europeus eram vistos como os principais manufaturadores e comerciantes do mundo, detendo ainda a confiança e reciprocidade dos governantes quanto à manutenção da economia em seus estados; 2) a existência de um mercado em expansão para seus produtos, tendo a Índia, a África, a América do Norte e a América do Sul sido integradas ao esquema da expansão econômica européia; e 3) o contínuo crescimento de sua população, que oferecia um mercado sempre crescente de bens manufaturados, além de uma reserva adequada (e posteriormente excedente) de mão-de-obra.
O Reino Unido foi pioneiro no processo da Revolução Industrial por diversos fatores:
Pela aplicação de uma política econômica liberal desde meados do século XVIII. Antes da liberalização econômica, as atividades industriais e comerciais estavam cartelizadas pelo rígido sistema de guildas, razão pela qual a entrada de novos competidores e a inovação tecnológica eram muito limitados. Com a liberação da indústria e do comércio ocorreu um enorme progresso tecnológico e um grande aumento da produtividade em um curto espaço de tempo.
O processo de enriquecimento britânico adquiriu maior impulso após a Revolução Inglesa, que forneceu ao seu capitalismo a estabilidade que faltava para expandir os investimentos e ampliar os lucros.
A Grã-Bretanha firmou vários acordos comerciais vantajosos com outros países. Um desses acordos foi o Tratado de Methuen, celebrado com a decadência da monarquia absoluta portuguesa, em 1703, por meio do qual conseguiu taxas preferenciais para os seus produtos no mercado português.
A Grã-Bretanha possuía grandes reservas de ferro e de carvão mineral em seu subsolo, principais matérias-primas utilizadas neste período. Dispunham de mão-de-obra em abundância desde a Lei dos Cercamentos de Terras, que provocou o êxodo rural. Os trabalhadores dirigiram-se para os centros urbanos em busca de trabalho nas manufaturas.
A burguesia inglesa tinha capital suficiente para financiar as fábricas, adquirir matérias-primas e máquinas e contratar empregados.
Para ilustrar a relativa abundância do capital que existia na Inglaterra, pode se constatar que a taxa de juros no final do século XVIII era de cerca de 5% ao ano; já na China, onde praticamente não existia progresso econômico, a taxa de juros era de cerca de 30% ao ano.
O início da Revolução Industrial está intimamente ligado a um pequeno número de inovações, a partir da segunda metade do século XVIII. Na década de 1830, os seguintes ganhos foram obtidos em tecnologias importantes:
Têxteis - a fiação mecanizada de algodão alimentada por vapor ou água aumentou a produção de um trabalhador por um fator de cerca de 500. O tear elétrico aumentou a produção de um trabalhador em um fator de mais de 40. O descaroçador de algodão aumentou a produtividade de remover sementes de algodão por um fator de 50.Grandes ganhos de produtividade também ocorreram na fiação e tecelagem de lã e linho, mas não eram tão grandes quanto no algodão.
Máquina a vapor - a eficiência dos motores a vapor aumentou, de modo que eles usaram entre um quinto e um décimo do combustível. A adaptação de motores a vapor estacionários ao movimento rotativo os tornou adequados para usos industriais.: O motor de alta pressão tinha uma alta relação potência / peso, tornando-o adequado para o transporte. A energia do vapor sofreu uma rápida expansão após 1800.
Fabricação de ferro - a substituição de coque por carvão reduziu bastante o custo de combustível da produção de ferro gusa e ferro forjado.: O uso de coque também permitiu a produção de altos fornos, resultando em economias de escala. O motor a vapor começou a ser usado para bombear água e para propulsionar o ar de combustão em meados da década de 1750, permitindo um grande aumento na produção de ferro, superando a limitação da potência da água. O cilindro de sopro de ferro fundido foi usado pela primeira vez em 1760. Mais tarde foi aprimorado, tornando-o de dupla ação, o que permitiu temperaturas mais altas do alto-forno. O processo de formação de poças produziu um ferro de qualidade estrutural a um custo menor do que a forno de fundição. O laminador era quinze vezes mais rápido que martelar ferro forjado. O sopro quente (1828) aumentou consideravelmente a eficiência de combustível na produção de ferro nas décadas seguintes.
Invenção de máquinas-ferramentas - As primeiras máquinas-ferramentas foram inventadas. Estas incluíam o torno de corte de parafuso, a máquina de perfuração de cilindros e a máquina de fresagem. As máquinas-ferramentas possibilitaram a fabricação econômica de peças metálicas de precisão, embora tenham sido necessárias várias décadas para desenvolver técnicas eficazes.
Na esfera social, o principal desdobramento da Revolução Industrial foi a transformação nas condições de vida nos países industriais em relação aos outros países da época, havendo uma mudança progressiva das necessidades de consumo da população, à medida que novas mercadorias foram sendo produzidas. A Revolução Industrial alterou profundamente as condições de vida do trabalhador, provocando inicialmente um intenso deslocamento da população rural para as cidades, criando enormes concentrações urbanas. A população de Londres passou de 800.000 habitantes em 1780 para mais de 5 milhões em 1880, por exemplo. No início da Revolução Industrial, os operários viviam em péssimas condições de vida e trabalho. O ambiente das fábricas era insalubre, assim como os cortiços onde muitos trabalhadores viviam. A jornadas de trabalho chegava a 80 horas semanais, e os salários variavam em torno de 2,5 vezes o nível de subsistência. Para mulheres e crianças, submetidos ao mesmo número de horas e às mesmas condições de trabalho, os salários eram ainda mais baixos.
A produção em larga escala e dividida em etapas iria distanciar cada vez mais o trabalhador do produto final, já que cada grupo de trabalhadores passava a dominar apenas uma etapa da produção, mas sua produtividade ficava maior. Como a produtividade do trabalho aumentava os salários reais dos trabalhadores ingleses aumentaram em mais de 300% entre 1800 até 1870. Devido ao progresso ocorrido nos primeiros 90 anos de industrialização, em 1860 a jornada de trabalho na Inglaterra já se reduzia para cerca de 50 horas semanais (10 horas diárias em cinco dias de trabalho por semana). Segundo a teoria marxista, o salário corresponde ao custo de reprodução da força de trabalho, ou seja, ao valor mínimo necessário para que o trabalhador sobreviva. Esse nível mínimo de subsistência varia historicamente. Os trabalhadores, notadamente a partir do século XIX, passaram a pressionar os seus patrões, reivindicando melhores condições de trabalho, maiores salários e crescentes reduções da jornada de trabalho. Com maiores salários, o conjunto dos trabalhadores pôde também elevar o seu nível de consumo, tornando possível a produção em massa de bens de consumo.
Os primeiros sindicatos nasceram na Inglaterra, após a Revolução Industrial, no século XVIII e se expandiram pelo século XIX. O capitalismo se consolidou e se tornou o modo de produção predominante. As mudanças tecnológicas causaram impacto no processo produtivo pela substituição da mão-de-obra. Para aumentar e manter o lucro máximo, a chamada mais-valia, os donos do capital, ou seja, a classe da burguesia impunha um ritmo de trabalho de 16 horas diárias, o trabalho infantil e das mulheres, sem direitos e péssimas condições nos locais. Para combater essa exploração, a classe operária criou os sindicatos, que atuaram de forma clandestina – Trade-unions (uniões de ofícios). Os empregados das fábricas formaram associações e sindicatos, a princípio proibidos e duramente reprimidos, durante a Primeira Revolução Industrial. Na segunda metade do século XIX, a organização dos trabalhadores assume um considerável nível de ideologização. O sindicalismo na virada do século XX é caracterizado por veleidades revolucionárias e de independência em relação aos partidos políticos.
Em 1837, os operários reivindicaram pelo direito a liberdade de atuação, inclusive pelo direito de voto para todos. Em 1864 é criada em Londres a Associação Internacional de Trabalhadores, a Internacional, primeira central sindical mundial da classe trabalhadora. No mesmo ano, na França, é reconhecido o direito de greve. As mobilizações continuaram e, em 1871, os trabalhadores conquistaram o poder político na França, por alguns dias, a ação ficou conhecida como a Comuna de Paris. Após a Primeira Guerra Mundial, uma parte dos sindicatos se alinha ao ideário socialista e comunista, enquanto outra parte se inclina para o reformismo ou para a tradição cristã. Em 1919 é criada a Organização Internacional do Trabalho, um dos mais antigos organismos internacionais, com direção tripartite, composta por representantes dos governos, dos trabalhadores e dos empregadores.
Reclamações contra as máquinas inventadas após a revolução para poupar a mão-de-obra já eram normais. Mas foi em 1811 que o estopim estourou e surgiu o movimento ludista, "uma forma mais radical de protesto". O nome deriva de Ned Ludd, um dos líderes do movimento. Os luditas chamaram muita atenção pelos seus atos. Invadiram fábricas e destruíram máquinas, que, segundo os luditas, por serem mais eficientes que os homens, tiravam seus trabalhos, requerendo, contudo, duras horas de jornada de trabalho. Os manifestantes sofreram uma violenta repressão, foram condenados à prisão, à deportação e até à forca. Os luditas ficaram lembrados como "os quebradores de máquinas". Anos depois os operários ingleses mais experientes adotaram métodos mais eficientes de luta, como a greve e o movimento sindical.
O movimento cartista foi organizado pela Associação dos Operários, exigindo melhores condições de trabalho, incluindo: a limitação de oito horas para a jornada de trabalho; a regulamentação do trabalho feminino; a extinção do trabalho infantil; a folga semanal e o salário mínimo.[34] Este movimento lutou ainda pela instituição de novos direitos políticos, como o estabelecimento do sufrágio universal (nesta época, o voto era um direito dos homens, apenas), a extinção da exigência de ter propriedades para que se pudesse ser eleito para o parlamento e o fim do voto censitário. Esse movimento se destacou por sua organização e por sua forma de atuação, chegando a conquistar diversos direitos políticos para os trabalhadores.