Reconquista é o processo histórico em que os reinos cristãos da Península Ibérica procuraram dominar a região durante o período do Alandalus. Este processo decorreu entre 718 ou 722 (data provável da Batalha de Covadonga, liderada por Pelágio das Astúrias) e 1492, com a conquista do Reino de Granada pelos reinos cristãos. O controlo progressivo da península ganhou destaque por ter possibilitado a fundação de novos reinos cristãos como o Reino de Portugal e o Reino de Castela, precursores de Portugal e de Espanha.
Houve resistência em várias partes da Península e os muçulmanos não conseguiram ocupar o norte da península Ibérica, onde resistiram muitos refugiados cristãos; aí surgiria Pelágio, que se pôs à frente dos refugiados, iniciando imediatamente um movimento para reconquistar o território perdido. Houve avanços e retrocessos. Portugal quase terminou sua Reconquista em 1187, mas o sul foi invadido pelo Califado Almóada do Norte da África ou no século X devido as constantes invasões islâmicas e entre outros, a desunião ibérica favoreceu bastante os muçulmanos.
Os reinos ibéricos eram monarquias feudais, era eficiente para combater incursões muçulmanas e razias mas dificultava o processo de Reconquista devido a desunião dinástica e as guerras feudais. A ocupação das terras conquistadas fazia-se com um cerimonial: cum cornu et albende de rege, isto é, com o toque das trombetas e o estandarte desfraldado.
A ideia de guerra santa, pela cruz cristã, só veio a surgir na época das Cruzadas (1096) e já em 1085, os reinos cristãos já haviam reconquistado mais da metade da Península Ibérica. A reconquista de todo o território peninsular durou cerca de cinco séculos, só ficando concluída em 1491 com a tomada do reino muçulmano de Granada pelos reis Católicos.
Em Portugal, a reconquista terminou antes com a conquista definitiva da cidade de Faro pelas forças de D. Afonso III, em 1249, o extremo sul do país estava completamente despovoado, a população encontrava-se no centro-norte até ao sul de Évora e Santiago do Cacém. O Algarve foi repovoado na segunda metade do século XIII.
Por volta do ano 711 a Península Ibérica foi invadida por soldados berberes, comandadas por Tárique, obrigando os visigodos a recolher-se principalmente na região de Astúrias, uma região no Norte da Península, que, pelas suas características naturais, colocava grandes dificuldades ao domínio muçulmano. Além disso, os muçulmanos podiam contornar essa região pois estavam mais interessados em atravessar os Pirenéus e derrotar os Francos, do outro lado, visto terem como objectivo conquistar todos os territórios à volta do Mediterrâneo, o que acabou por não acontecer, pois foram derrotados pelos Francos.
Assim, o período compreendido entre 711 e 1491 foi marcado, na Península Ibérica, entre outros fatos, pela presença de governantes muçulmanos. Em nome da recuperação da região, ocorreu um longo processo de lutas, considerado por alguns como parte do movimento de cruzadas, resultando finalmente na completa reconquista do território por parte dos cristãos.
Durante esta fase, dá-se o nascimento do Reino de Portugal e de diversos outros reinos na Península Ibérica, tal como o Reino dos Algarves e o Reino de Leão. Enquanto Portugal já em 1168 tinha seus limites muito próximos dos atuais, a unificação da Espanha deu-se de forma gradual; até hoje ainda existem movimentos separatistas.
No século XII, os almorávidas foram substituídos pelo Califado Almóada no extremo Sul do território peninsular. Os almóadas surgiram em Marrocos, descontentes com o insucesso dos almorávidas em revigorar os estados muçulmanos fantoches na Península Ibérica, bem como em suster a reconquista ibérica cristã. Isso porque os reinos cristãos ibéricos, que já haviam reconquistado quase 3/4 da Ibéria no século XII, tinham juntos cerca de sete milhões de habitantes, enquanto o Sul, dominado pelos mouros, tinha uma população muito escassa em comparação.
O primeiro reino cristão foi o das Astúrias, fundado por Pelágio, e mais tarde o Reino de Leão. Nos princípios do século X, a província de Navarra tornou-se independente, formando o Reino de Navarra.
Os reis ásturo-leoneses foram alargando os domínios cristãos que atingiram o rio Mondego (Afonso III de Leão, e, ao mesmo tempo, iam repovoando terras e reconstruindo igrejas e mosteiros, ficando célebre na parte ocidental o Mosteiro de Guimarães – com grandes propriedades rústicas e muitos castelos por todo o norte do país.
Porém, já no século X, as discórdias entre os chefes cristãos enfraqueceram o reino, e Almançor tomou a ofensiva destruindo Leão, a capital, e reduzindo o reino cristão ao último extremo.
No século XI, Sancho de Pamplona, rei de Navarra, anexou o condado de Castela e, por sua morte, os seus estados foram divididos pelos três filhos, sendo nessa altura os condados de Aragão e de Castela elevados à categoria de reinos. O reino de Castela coube a Fernando I, o Magno, mas este em breve se apoderou também do reino de Leão.
Fernando, rei de Leão e Castela, notabilizou-se na luta contra os muçulmanos recuperando muitas terras, entre as quais Coimbra (1064), alargando assim definitivamente os limites da reconquista até ao Mondego. Este monarca desenvolveu o território entre o Douro e Mondego, o qual aparece designado por Portucale, separadamente dos outros territórios da Galiza, com dois distritos ou condados – Portugal e Coimbra – gozando de autonomia administrativa, com magistrados próprios.
Fernando I, ao falecer (1065), repartiu os seus domínios pelos filhos: Sancho ficou com Castela, Afonso com Leão e Astúrias, e Garcia com a Galiza (e com ele o condado de Portugal), transformado no independente Reino da Galiza. Depois de várias lutas entre os irmãos, morto Sancho e destronado Garcia, Afonso VI de Castela reúne novamente todos os estados de seu pai, tornando-se assim rei de Leão, de Castela e de Galiza.
Afonso VI, aproveitando as lutas entre os principados muçulmanos após a desagregação do califado de Córdova (1031), prosseguiu a guerra contra os infiéis e conquistou Toledo, onde fixou a capital.
Face às vitórias cristãs, os emires pedem auxilio aos Almorávidas da Mauritânia, e estes, vindo à Península, derrotam os exércitos cristãos na Batalha de Zalaca (1086). Porém, a oeste, os nobres galegos e do condado portucalense, tomam Santarém e a seguir Lisboa e Sintra (1093), estendendo assim a reconquista até ao Tejo. Contudo, em 1110, uma reação mais forte dos sarracenos trouxe-os de novo até junto de Santarém e após um longo assédio a cidade rendeu-se, diminuindo de extensão o poder dos leoneses. Santarém permanece então no poder dos mouros até ser reconquistada definitivamente por D. Afonso Henriques em 1147. Acudindo aos apelos de Afonso VI, entre os cavaleiros de além-Pirenéus, vem Raimundo da Borgonha, filho do conde de Borgonha, que casaria com D. Urraca, filha do rei de Leão e recebe deste (1093) o governo de toda a Galiza até ao Tejo. No ano seguinte chega à Península D. Henrique, irmão do Duque de Borgonha e primo de Raimundo, que recebe a mão de D. Teresa, filha ilegítima de Afonso VI e recebe, depois, o governo da província portucalense que fazia parte do Reino da Galiza - terra que seu filho Afonso Henriques (revoltando-se contra ela e o seu padrasto Fernão Peres de Trava) alargou e tornou em reino independente. Assim, a formação do reino de Portugal foi uma frutuosa consequência das cruzadas do Ocidente. O reino da Galiza passou a ser unicamente aquele ao norte do rio Minho, ficando, com o tempo, mais dependente do poder do Reino de Castela — limitada por Leão a Este e por Portugal a Sul, a Galiza assumia assim a sua fronteira e Portugal seria o único a constituir um estado independente do poder castelhano.
Depois de D. Afonso VI de Leão, o último grande reconquistador espanhol até aos Reis Católicos, a reconquista contra o Califado Almóada foi prosseguida pelos reis de Portugal, Castela, Aragão e pelos condes de Barcelona.
711-718 Os muçulmanos dão início à invasão árabe da Península Ibérica
718 Pelágio das Astúrias, um nobre visigodo é eleito rei e avança sobre o exército muçulmano, iniciando a Reconquista Cristã.
750 Os cristãos, sob o comando de Afonso I das Astúrias, ocupam a Galiza que teria sido abandonada pelos berberes.
791 Bermudo I das Astúrias é derrotado na Batalha do Burbia pelo andalusino Hixam I, motivo que levaria Bermudo a renunciar ao trono.
791-842 Afonso II das Astúrias consolida as conquistas e avança para Sul do Rio Douro.
798 Expedição de Afonso II das Astúrias até Lisboa.
868 Vímara Peres, filho de Pedro Theon, foi um dos responsáveis pela repovoação da linha entre o Minho e Douro, assim definitivamente conquistado aos muçulmanos no ano de 868.[1] Nesse mesmo ano, tornou-se o primeiro conde de Portucale.
873-898 Vifredo I, Conde de Barcelona institui um reino cristão com alguma independência dos Francos.
905-926 Sancho I Garcez cria o reino Basco, em Navarra.
930-950 Ramiro II de Leão derrota Abd al-Rahman III nas batalhas de Simancas, Osma e Talavera.
950-951 O Conde Fernão Gonzalea cria as fundações para a independência de Castela
981 Ramiro III de Leão é derrotado pelo Almançor na batalha de Rueda e é obrigado a pagar tributo ao Califado de Córdova.
999-1018 Afonso V de Castela reconstrói os reinos.
1002 Última batalha de Almançor: Calatañazor
1000-1033 Sancho III de Navarra subjuga o condado de Aragão, toma a posse do condado de Castela e ameaça Bermudo III de Leão da sua intenção de se tornar imperador, anexando o Reino de Leão. Contudo, após a sua morte, deixa Navarra para o seu filho, Garcia III, Castela para Fernando I e Aragão para Ramiro I
1035-1063 Fernando I de Leão conquista Coimbra e impõe tributo às taifas de Toledo, Badajoz e Sevilha. Antes da sua morte, divide os territórios entre os filhos: Castela para Sancho II, Leão para Afonso VI de Castela.
1065-1109 Afonso VI unifica ambos os reinos sob o seu cetro e toma Toledo.
1086 A ameaça cristã alerta os reis das taifas de Granada, Sevilha e Badajoz que pedem auxílio aos Almorávidas.
1102 O seguidores de Cid deixam Valência e os muçulmanos ocupam a Península até Saragoça.
1118 Afonso I de Aragão conquista Saragoça.
1135 Afonso VII de Leão restaura o prestígio da monarquia leonesa e é proclamado imperador.
1147 Conquista de Lisboa por D.Afonso Henriques aos mouros com a ajuda dos Cruzados.
1151 Os almóadas, outra dinastia africana, depuseram os Almorávidas e retomaram Almeria.
1162 Afonso II, filho de Petronila e Raimundo Berengário IV unificam o Reino de Aragão e o Condado de Barcelona.
1195 O Califado Almóada derrotam o Reino de Castela na Batalha de Alarcos.
1205-1220 O Papa João XXI nasce em Lisboa.
1212 Afonso VIII de Castela, Sancho VII de Navarra, Pedro II de Aragão e Afonso II de Portugal saem vitoriosos da Batalha de Navas de Tolosa.
1229 Jaime I de Aragão, reconquista Mallorca.
1230 Afonso IX de Leão avança sobre o Guadiana, tomando Mérida e Badajoz, abrindo o caminho para a conquista de Sevilha.
1217-1252 Fernando III de Castela conquista Córdoba, Múrcia, Xaém e Sevilha. Resta Granada, a única província muçulmana.
1252-1284 Afonso X de Castela, o Sábio, continua a Reconquista e é obrigado a enfrentar a revolta 'Mudejar' na Andaluzia e Múrcia. Procura ser elegido como imperador do Sacro Império Romano-Germânico em 1257. Afonso X esboça o Fuero de las Leyes, o predecessor das Sete Partidas.
1284 Assembleia de nobres, prelados e cidadãos depõem Afonso X e passam o poder para o seu filho, Sancho IV de Castela
1309 Fernando IV de Castela toma Gibraltar.
1312-1350 Afonso XI de Castela e Afonso IV de Portugal lutam pelo reino da Granada e, ao fim de 25 anos de tentativas, em 1340, vencem na Batalha do Salado
1369 Pedro I de Castela, o Cruel, é assassinado em Montiel pelo seu meio-irmão Henrique de Trastámara, que irá governar como Henrique II.
1464 Henrique IV de Castela nomeia a sua irmã para o trono, a futura Isabel I de Castela, e deserda a sua filha Joana, La Beltraneja.
1469 Isabel I de Castela casa com Fernando II de Aragão, unificando a Espanha
1492 Conquista de Granada - fim da Guerra de Granada e da Reconquista
Em 1492, com a conquista do reino de Granada, a Reconquista chegava ao fim. Já os reinos da Galiza, Leão, Castela, Navarra e Aragão iniciavam uma relativa unificação ao possuir um único rei (embora mantendo a autonomia econômica, administrativa e comercial), que posteriormente recebeu o nome de Espanha. Juntamente com o reino independente de Portugal, debatiam-se estes dois Estados pelas conquistas marítimas. Ainda com o apoio da Igreja, ambos os reis estavam agora de olhos postos no Norte de África, nas praças comerciais de renome, como Ceuta e Tânger, sob o pretexto da cristianização. Caminhava-se, paralelamente, para a fase inicial dos Descobrimentos.