O Império Bizantino foi a continuação do Império Romano na Antiguidade Tardia e Idade Média. Sua capital, Constantinopla (atual Istambul), originalmente era conhecida como Bizâncio. Inicialmente parte oriental do Império Romano (comumente chamada de Império Romano do Oriente no contexto), sobreviveu à fragmentação e ao colapso do Império Romano do Ocidente no século V e continuou a prosperar, existindo por mais de mil anos até sua queda diante da expansão dos turcos otomanos em 1453. Foi conhecido simplesmente como Império Romano (em grego: Βασιλεία τῶν Ῥωμαίων; transl.: Basileía tôn Rhōmaíōn; em latim: Imperium Romanum) ou România (em grego: Ῥωμανία; transl.: Rhōmanía) por seus habitantes e vizinhos.
Como a distinção entre o Império Romano e o Império Bizantino é em grande parte uma convenção moderna, não é possível atribuir uma data de separação. Vários eventos do século IV ao século VI marcaram o período de transição durante o qual as metades oriental e ocidental do Império Romano se dividiram.Em 285, o imperador Diocleciano (r. 284–305) dividiu a administração imperial em duas metades. Entre 324 e 330, Constantino (r. 306–337) transferiu a capital principal de Roma para Bizâncio, conhecida mais tarde como Constantinopla ("Cidade de Constantino") e Nova Roma.Sob Teodósio I (r. 379–395), o cristianismo tornou-se a religião oficial do império e, com sua morte, o Estado romano dividiu-se definitivamente em duas metades, cada qual controlada por um de seus filhos. E finalmente, sob o reinado de Heráclio (r. 610–641), a administração e as forças armadas do império foram reestruturadas e o grego foi adotado em lugar do latim. Em suma, o Império Bizantino se distingue da Roma Antiga na medida em que foi orientado à cultura grega em vez da latina e caracterizou-se pelo cristianismo ortodoxo em lugar do politeísmo romano.
As fronteiras do império mudaram muito ao longo de sua existência, que passou por vários ciclos de declínio e recuperação. Durante o reinado de Justiniano (r. 527–565), alcançou sua maior extensão após reconquistar muito dos territórios mediterrâneos antes pertencentes à porção ocidental do Império Romano, incluindo o norte da África, península Itálica e parte da Península Ibérica. Durante o reinado de Maurício (r. 582–602), as fronteiras orientais foram expandidas e o norte estabilizado. Contudo, seu assassinato causou um conflito de duas décadas com o Império Sassânida que exauriu os recursos do império e contribuiu para suas grandes perdas territoriais durante as invasões muçulmanas do século VII. Durante a dinastia macedônica (século X–XI), o império expandiu-se novamente e viveu um renascimento de dois séculos, que chegou ao fim com a perda de grande parte da Ásia Menor para os turcos seljúcidas após a derrota na Batalha de Manziquerta (1071).
No século XII, durante a Restauração Comnena, o império recuperou parte do território perdido e restabeleceu sua dominância. No entanto, após a morte de Andrônico I Comneno (r. 1183–1185) e o fim da dinastia comnena no final do século XII, o império entrou em declínio novamente. Recebeu um golpe fatal em 1204, no contexto da Quarta Cruzada, quando foi dissolvido e dividido em reinos latinos e gregos concorrentes. Apesar de Constantinopla ter sido reconquistada e o império restabelecido em 1261, sob os imperadores paleólogos, o império teve que enfrentar diversos estados vizinhos rivais por mais 200 anos para sobreviver. Paradoxalmente, este período foi o mais produtivo culturalmente de sua história.Sucessivas guerras civis no século XIV minaram ainda mais a força do já enfraquecido império e mais territórios foram perdidos nas guerras bizantino-otomanas, que culminaram na Queda de Constantinopla e na conquista dos territórios remanescentes pelo Império Otomano no século XV.
A sobrevivência do Império Romano do Oriente assegurou um papel ativo do imperador em assuntos da Igreja. O Estado herdou dos tempos pagãos os procedimentos administrativos e financeiros dos assuntos religiosos — o imperador era o pontífice máximo — e esses procedimentos foram aplicados à Igreja Cristã. Seguindo o padrão estabelecido por Eusébio de Cesareia, os bizantinos viam o imperador como representante ou mensageiro de Jesus Cristo, responsável, em particular, pela propagação do cristianismo entre pagãos e pelos temas que não se relacionavam diretamente à doutrina, como administração e finanças. A busca pela unificação das crenças, costumes e ritos em todo império e hierarquia eclesiástica foram dois fatores essenciais que legitimaram o poder imperial assim como a centralização do Estado: como Cyril Mango aponta, o pensamento político bizantino pode ser resumido no lema "Um Deus, um império, uma religião".No entanto, o papel imperial nos assuntos da Igreja nunca se desenvolveu num sistema fixo legalmente definido. Com o declínio de Roma e a dissensão externa nos outros Patriarcados do Oriente (Antioquia, Alexandria e Jerusalém), a Igreja de Constantinopla tornou-se, entre os séculos VI e XI, o mais influente e rico centro da cristandade. Mesmo quando o império foi reduzido a apenas uma sombra de seu esplendor, a Igreja continuou a exercer influência significativa tanto dentro como fora das fronteiras imperiais. Como George Ostrogorsky aponta:
“O Patriarcado de Constantinopla permaneceu o centro do mundo ortodoxo, com sés metropolitanas subordinadas e arcebispados no território da Ásia Menor e Bálcãs, regiões na época perdidas ao Império Bizantino, bem como no Cáucaso, Rússia e Lituânia. A igreja continuou a ser o elemento mais estável do Império Bizantino.”
A doutrina cristã oficial do Estado foi determinada pelos primeiros sete concílios ecumênicos e o imperador tinha dever de impô-la aos súditos. Um decreto imperial de 388, depois incorporado no Código de Justiniano, ordenava que a população "assumisse o nome de cristãos católicos" e declarava todos que não cumprissem a lei como "pessoas loucas e tolas", seguidoras de "dogmas heréticos". Apesar dos decretos e postura rigorosa da Igreja do Estado, que passou a chamar-se "Igreja Ortodoxa", ela nunca representou todos os cristãos do império. Mango acredita que, nos estágios iniciais, as "pessoas loucas e tolas", justamente os rotulados como "hereges", constituíam a maioria da população. Além de pagãos, que existiram até o final do século VI, e judeus, havia muitos seguidores — muitas vezes imperadores — de várias doutrinas cristãs, como o nestorianismo, monofisismo, arianismo e paulicianismo, cujos dogmas de algum modo se opunham ao cânone teológico "ortodoxo" estabelecido nos concílios ecumênicos. Outra divisão entre os cristãos ocorreu quando Leão III, o Isauro (r. 717–741) ordenou a destruição dos ícones, o que provocou uma crise religiosa significativa que só terminou em meados do século IX com a restauração dos ícones. Nesse período, nova onda de pagãos emergiu nos Bálcãs, oriundos principalmente dos povos eslavos. Eles foram gradualmente cristianizados e, durante estágios finais do Império Bizantino, a Ortodoxia passou a representar a maioria dos cristãos no que restava do império.
Após a reconquista de Constantinopla em 1261, duas controvérsias religiosas dominaram a agenda política. A hesicasta, que divergia uma abordagem mística da religião, tipicamente defendida por monges e a população, com outra, mais racional e intelectualizada, de influência aristotélica ocidental, defendida pela aristocracia e os que defendiam a união com a sé de Roma. A vitória dos hesicastas foi a reafirmação do sentimento antilatino entre os ortodoxos. Mais ampla, a controvérsia sobre a reunião das Igrejas, principalmente a "União das Igrejas" durante o Segundo Concílio de Lião (1275) e a "União de Florença" no Concílio de Florença (1437), dominou o debate teológico e foi utilizada pelos imperadores como "moeda de troca" para conseguir a ajuda ocidental contra a ameaça islâmica.
Os judeus foram uma minoria significativa no Estado ao longo de sua história e, de acordo com a lei romana, constituíam grupo religioso legalmente reconhecido. No período inicial, foram geralmente tolerados, mas depois ocorreram períodos de tensões e perseguições (como a Revolta judaica contra Heráclio). De qualquer forma, após as conquistas árabes, a maioria dos judeus se viu fora do império; aqueles que ficaram dentro das fronteiras aparentemente viveram em relativa paz a partir do século X.
Legado
O império é comumente descrito como absolutista, ortodoxo, oriental e exótico, assim como os termos "bizantino" e "bizantinismo" são usados como arquétipos de decadência, burocracia complexa e repressão. Países da Europa Central e Sudeste que saíram do Bloco do Leste no final da década de 80 e começo da 90 avaliaram essa civilização e seu legado negativamente devido sua ligação com um suposto "autoritarismo e autocracia oriental". Tanto autores europeus orientais como ocidentais têm apresentado frequentemente o Império Bizantino como um corpo de ideias religiosas, políticas e filosóficas contrárias ao Ocidente. Mesmo na Grécia do século XIX, o foco foi principalmente seu passado clássico, enquanto a tradição bizantina era associada a conotações negativas.
Essa abordagem tradicional tem sido questionada, parcial ou totalmente, e revisada por estudos modernos, que focam nos aspectos positivos da cultura e legado. Averil Cameron considera inegável sua contribuição à formação da Europa medieval, e tanto Cameron como Obolensky reconhecem o papel central do Império Bizantino na formação da Ortodoxia, que por sua vez ocupou posição central na história e sociedade da Grécia, Bulgária, Rússia, Sérvia e outros países. Os bizantinos preservaram e copiaram manuscritos clássicos, pelo que são assim reconhecidos como transmissores do conhecimento clássico, importantes contribuidores à civilização europeia moderna e precursores tanto do humanismo renascentista como da cultura eslava ortodoxa.
Como único Estado de longo prazo na Europa na Idade Média, ele isolou a Europa Ocidental das forças emergentes do Oriente. Sob ataque constante, manteve afastados da Europa Ocidental persas, árabes, turcos seljúcidas e, por algum tempo, turcos otomanos. De uma perspectiva diferente, desde o século VII, a evolução e constante reformulação do Estado foram diretamente relacionadas com o progresso do Islã.Com a tomada de Constantinopla em 1453, o sultão Maomé II, o Conquistador usou o título de "César de Roma" (em turco: Kaysar-i-Rûm), pois queria fazer o Império Otomano herdeiro do Império Bizantino. Segundo Cameron, ao considerarem-se "herdeiros" do Império Bizantino, os otomanos preservaram aspectos importantes de sua tradição, permitindo um "renascimento ortodoxo" durante o período pós-comunista nos Estados do Leste Europeu.